quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A psicanálise, os instintos e a socialização?

A psicanálise, segundo Jung,  foi acusada de libertar os instintos mais animais no homem. Mas o psicólogo relembra que, não é só a pregação moral que impede que as pessoas caem no que ele chamou de libertinagem. Defende o conhecimento que cada um pode ter sobre a totalidade da sua personalidade argumentando que o que não for integrado aparecerá de outras formas, em outros momentos da vida. Sobre isto diz: 



"No entanto, a necessidade é um regulador muito mais eficaz, pois estabelece limites para realidade, o que é muito mais convincente do que todos os princípios morais reunidos" (p.18)

Outra ponto levantado, é o de que conhecendo nossa própria sombra, podemos compreender e amar nossos semelhantes, enxergando neles as mesmas dificuldades existenciais que as nossas. Assim, diminuindo a hipocrisia nas relações, paramos também de transferir ao próximo a violência que praticamos contra nossa própria natureza.

Continuando, Jung conclui que, segundo a teoria freudiana, uma pessoa sem freios morais teria necessariamente que ser imune à neurose, o que não acontece na prática pois, a a análise de uma pessoa imoral revela que houve simplesmente uma repressão do lado moral (p.18).

Uma das contribuições de Freud, aos olhos de Jung, foi trazer a idéia de que a moral não "veio dos céus" mas sim que constitui uma função da alma humana tão antiga quanto a própria humanidade.

Neste ponto, meu lado sociológico se pergunta, como podemos determinar que existe "uma moral" a priori de toda socialização? A função instintiva de regular as ações, me parece existir como pressuposto. Penso, que há uma socialização baseada em valores específicos, em cada sociedade. O fato de encontrarmos algum tipo de moral em todas as formas de existência humana é aceitável a partir do momento que reconhecemos a diversidade que se apresenta em cada caso.

É o próprio Jung que afirma que: "À medida que uma cultura se desenvolve, é possível submeter massas cada vez maiores ao domínio de uma mesma moral. No entanto, até hoje foi impossível estabelecer uma lei moral que se impusesse além dos limites da sociedade, isto é, no espaço livre de grupos que não dependem um do outro. Aí como no tempo dos nossos ancestrais, impera a ausência do direito e da disciplina e a mais completa imoralidade; esta no entanto, só é denunciada pelo inimigo casual que com ela se confronta. (p.19)

Aqui, discordo de Jung, não podemos conhecer como foram e como pensaram estes ancestrais que ele cita. Por este motivo, acho complicado atribuir-lhes uma falta de moralidade e de disciplina. Não alcançamos suas necessidades e como elaboravam a sobrevivência dentro duas mentes. Tento imaginar como poderíamos  comprovar este argumento e talvez, tivéssemos que conhecer e estudar o comportamento de pessoas que viveram experiências isoladas de qualquer grupo tentando identificar  nelas o conceito de moral.


 (Trailer do filme Nell que conta a história de uma mulher que é criada por sua mãe em uma floresta isolada de qualquer tipo de civilização).

Nenhum comentário:

Postar um comentário